Dizem que depois dos cinquenta a mulher some. Some do radar, some das conversas, some das propagandas. Some até do olhar de quem um dia enxergou. Como se a gente virasse fumaça. Como se cabelo branco fosse uma borracha que apaga a existência.
Mas nós não sumimos.
Nós somos Marta, 54 anos, filha de lavadeira, criada no morro, que ergueu casa tijolo por tijolo com suas próprias mãos.
Somos Joana, 51 anos, filha da faxineira, que organiza eventos.
Somos Lúcia, 62 anos, professora que cria caminhos onde antes só havia descaso.
Somos também aquelas que vendem quentinha, fazem trança no portão, costuram roupa para as vizinhas, fazem faculdade, enfermeiras, advogadas, fotógrafas, boleiras, cabeleireiras, artesãs. Mulheres que ainda encontram tempo para sonhar, estudar e empreender — porque empreender, para nós, é mais que abrir um negócio: é sobreviver e criar futuro.
E não é apenas narrativa: é dado.
Pesquisas mostram que mulheres entre 40 e 60 anos, sobretudo nas periferias, lideram o empreendedorismo. O que chamam de “tendência” nós chamamos de prática antiga, a nossa sevirologia — a arte de se virar.
Cerca de 70% dessas mulheres estão à frente de pequenos negócios, equilibrando resiliência com criatividade. Não apenas sustentam suas famílias: tornam-se referências dentro de suas comunidades.
Esse movimento se conecta ao que especialistas chamam de economia prateada: o reconhecimento da potência econômica das pessoas com mais de 50 anos. No nosso caso, mulheres que movimentam setores como gastronomia, moda, beleza, saúde, bem-estar, turismo. Um mapa vivo de talentos que o mercado insiste em subestimar.
E enquanto os números confirmam, a vida segue pulsando: temos filhos que correm atrás dos próprios sonhos, netos que brincam como se o mundo fosse deles, memórias que sustentam lutas e potências. Cada ruga é um capítulo de coragem. Cada fio branco, uma medalha de resistência.
Engraçado: aos vinte, queriam que fôssemos bonitas.
Aos trinta, eficientes.
Aos quarenta, resilientes.
Agora, depois dos cinquenta, querem que sejamos invisíveis.
Mas invisíveis não somos.
Segundo o IBGE, cresce ano a ano o número de mulheres empreendedoras — e entre as que vivem em favelas e periferias, esse crescimento é ainda mais expressivo. Não apenas sobrevivemos: prosperamos.
Querem nos colocar na prateleira de trás. Mas não aceitamos. Somos vitrines. Somos avós que dançam funk no aniversário do neto, empreendedoras que correm atrás com o PIX na mão, mulheres que ainda sonham, mesmo quando a vida cobra antes da conquista.
Nós não pedimos licença para existir. Somos a festa inteira.
E se alguém acha que já nos viu demais, prepare-se: ainda temos muito para mostrar.
Porque a vida não acabou. Ela só ficou mais nossa.
Porque nunca é tarde para sonhar, para começar de novo, para prosperar, para amar, para se reinventar.
Nunca é tarde para existir em plenitude.
Então, sociedade, escuta bem: ainda estamos aqui. E agora falamos mais alto.
Foto: Alexandra Tran / Unsplash