Da sobrevivência à potência: o que celebramos no Dia da Favela

Dia em que muitos voltam o olhar para o território periférico e se dizem felizes e comemorativos. Dia em que falsas esperanças são projetadas sobre uma realidade bem real.

Neste dia, o que realmente buscamos é mostrar ao mundo, de forma clara, que estar na periferia não nos delimita nem significa que não podemos ter uma vida plena. Estar na favela não nos torna incapazes. Eu, por exemplo, faço questão de realizar metas, conquistar objetivos e, todos os dias, voltar para minha favela para motivar mais um amigo a também seguir essa missão — a de realmente viver, e não apenas sobreviver.

Vivemos em uma sociedade que nos faz sentir na pele que ser negro, mulher, mãe e/ou pai solo é algo que fere as morais um dia impostas. Isso faz com que nosso caminho pareça tortuoso e quase impossível de alcançar. Mas nós chegamos — e, com inovação e muita gambiarra, colocamos nossa referência em evidência, fortalecendo a união, a solidariedade e a potência que transformam nossas vielas.

Proporcionar aos jovens oportunidades de acesso ao esporte, ao lazer, à cultura e, principalmente, à educação seria o caminho dos sonhos. Seria realmente incrível. Mas nós atravessamos as barreiras que nos impuseram e seguimos, com grandes instituições fortalecendo nossas ações e com líderes — mulheres e homens — que vivem pela sua comunidade e se dedicam a transformar a realidade de ao menos uma pessoa.

E é isso que realmente comemoramos neste dia: o fato de que, nas nossas vielas, não há preço, mas há valor. Valor em cada beco transformado pela arte do grafite, em cada campinho ou quadra usada para desenvolver novos craques, em cada brincadeira de rua onde mostramos que, mesmo com limitações, seremos sempre potencializadores.

Dia da Favela: dia de mudança, construção e resiliência.

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