Experiência que transforma: 70% da força de trabalho em reciclagem é feminina

Esta coluna tem como objetivo conectar toda a sociedade a temas que nascem da experiência de mulheres maduras das periferias e favelas, mas que são relevantes para todos: homens, jovens, empresas e comunidades. Questões como economia prateada, empreendedorismo, saúde e sustentabilidade são transversais e beneficiam famílias, territórios e o planeta.

Quando uma mulher transforma óleo em sabão, tecido em roupa, ou lidera uma cooperativa de reciclagem, ela não só gera renda, mas também reduz impactos ambientais e inspira práticas de economia circular. Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, 2024), as mulheres lideram escolhas de consumo sustentável, influenciando mercados inteiros.

Reconhecer esse protagonismo e a influência ativa nas decisões é entender que sustentabilidade não se constrói apenas em conselhos de administração. Ela começa nos quintais, nas cozinhas e nos ateliês.

Mulheres, Sustentabilidade e Futuro do Mundo

A experiência de quem viveu décadas conciliando trabalho, família e comunidade tem muito a ensinar quando o assunto é sustentabilidade. Nas periferias, onde os recursos são limitados e a criatividade é regra, mulheres maduras vêm transformando práticas de sobrevivência em verdadeiras soluções de impacto socioambiental.

Reaproveitar tecidos para criar roupas e artesanatos, transformar óleo usado em sabão, cultivar hortas comunitárias em pequenos terrenos, reutilizar madeira ou entulho em mobiliário. O que antes era apenas necessidade, hoje se conecta a conceitos globais de economia circular e ESG.

As cooperativas de reciclagem exemplificam esse movimento, majoritariamente formadas por mulheres, muitas delas acima dos 40 anos. Segundo o Movimento Nacional dos Catadores, cerca de 70% da mão de obra na triagem de recicláveis é feminina. Esse trabalho reduz a pressão sobre aterros, melhora a qualidade ambiental das cidades e garante renda para milhares de famílias.

A pauta não é apenas local. O Grupo Elas na Economia Circular, criado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, busca incluir as mulheres, em especial das periferias, nas políticas nacionais de reaproveitamento e sustentabilidade. É o reconhecimento de que, sem elas, não há economia circular possível.

A CNC (2024) revela que as consumidoras rejeitam com mais intensidade empresas que ignoram práticas sustentáveis, influenciando diretamente os rumos do mercado.

Essas trajetórias revelam que práticas de reaproveitamento e cuidado ambiental não são apenas “boas ideias”: são soluções concretas que beneficiam toda a sociedade. Quando uma comunidade recicla mais, há menos lixo nos córregos. Quando empreendimentos locais reaproveitam materiais, há menos demanda por recursos naturais. Quando essas mulheres inovam, ganham suas famílias, seus bairros e também as grandes cidades que compartilham o mesmo território.

Reconhecer esse protagonismo é entender que sustentabilidade não se constrói só em conselhos de administração. Ela nasce, todos os dias, nas cozinhas, ateliês e quintais de mulheres que aprenderam a transformar limites em possibilidades.

E a mensagem que deixo é: nunca é tarde para inovar, nunca é tarde para empreender, nunca é tarde para cuidar do planeta. A maturidade é, na verdade, um diferencial. Aproveitem, não importa se você é o criador ou criatura desse lugar.

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