O Brasil tem diante de si um mercado de R$ 300 bilhões anuais que muitas empresas ainda não descobriram completamente. As favelas brasileiras, que abrigam 17 milhões de pessoas, movimentam um volume financeiro superior ao Produto Interno Bruto de países como Uruguai e Peru, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Data Favela em parceria com a Central Única de Favelas e Favela Holding.
O levantamento, que ouviu mais de 16 mil moradores entre 3 e 6 de julho, mostra um mercado consumidor em transformação. Nos últimos três meses, 55% dos moradores compraram produtos de beleza – equivalente a 6,5 milhões de pessoas -, enquanto 41% adquiriram vestuário. Mais relevante para empresas de e-commerce: 60% já compraram produtos pela internet.
O contexto se torna ainda mais atrativo quando cruzado com dados do Ministério do Desenvolvimento Social. Cerca de 6,55 milhões de famílias deixaram a linha da pobreza nos últimos dois anos, representando 14,17 milhões de pessoas que migraram da faixa de renda de até R$ 218 por pessoa para patamares superiores.
“As pessoas estão saindo da pobreza, seja pelo trabalho ou pelo empreendedorismo”, afirmou Wellington Dias, titular do MDS. A redução foi de 25% no número de famílias em situação de pobreza, que caiu de 26,1 milhões em 2023 para 19,56 milhões em julho de 2025.
Oportunidades setoriais
A pesquisa revela prioridades claras de consumo que podem orientar estratégias empresariais. Na educação, 43% dos moradores pretendem adquirir cursos diversos e 29% buscam cursos de idiomas. O setor de beleza e vestuário já demonstra penetração significativa, com mais da metade da população consumindo regularmente.
Para Rafael Osório, secretário de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único do MDS, a melhoria resulta de três fatores: avanço dos programas sociais, melhor mercado de trabalho e qualificação do sistema de cadastro, que agora incorpora automaticamente dados sobre renda formal.
O otimismo é outro indicador relevante para empresas que avaliam investimentos no segmento. Mesmo enfrentando menor atenção do poder público e privação de direitos, 90% dos entrevistados se mostraram otimistas com o futuro e acreditam que a vida deve melhorar no próximo ano.
Demandas de infraestrutura
As prioridades dos moradores também sinalizam oportunidades para outros setores. Entre as principais melhorias desejadas, 19% citaram melhor qualidade das habitações, 18% pediram mais acesso a hospitais e postos de saúde, outros 18% focaram em segurança e 14% em infraestrutura básica como esgoto e iluminação pública.
Com 12,3 mil favelas distribuídas em 6,6 milhões de residências, o Brasil tem nas periferias urbanas um mercado que equivale à população de toda a Região Norte. O valor de R$ 300 bilhões supera a renda de 22 estados brasileiros, dimensionando o potencial econômico ainda subutilizado por grande parte do setor privado nacional.
*Com informações da Agência Brasil