Micro e pequenas empresas criaram 84,5% dos empregos formais em agosto de 2025. São 124,4 mil das 147,3 mil vagas abertas no mês, segundo levantamento do Sebrae com base no Caged. Nos primeiros oito meses do ano, as MPEs já somam 982,9 mil contratações.
Os números confirmam tese ignorada por parte do mercado: pequeno negócio não é detalhe estatístico. É motor da economia brasileira que puxa o país ao menor desemprego desde 2012. Entre setembro de 2024 e agosto de 2025, a taxa caiu de 6,4% para 5,6%, com mais de 103 milhões de brasileiros trabalhando.
Serviços e construção lideram contratações em setores periféricos
Três setores concentram as contratações das MPEs e tradicionalmente empregam mais gente da periferia. Serviços abriu 62,5 mil vagas em agosto. Comércio criou 30,3 mil postos. Construção civil gerou 21 mil empregos.
No acumulado de 2024, serviços sozinho respondeu por 929 mil empregos formais. Construção civil adicionou 110.921 vagas, aquecida por obras do Novo PAC. São trabalhos que garantem carteira assinada, FGTS, férias e 13º salário para quem historicamente ficou na informalidade.
A informalidade caiu de 38,8% para 37,8% no período, mas ainda atinge 39 milhões de trabalhadores. Um terço do mercado segue sem proteção trabalhista, concentrado em periferias e regiões mais pobres.
Inflação corrói ganho salarial e pressiona pequenos negócios
Apesar do avanço no emprego, o ganho real do trabalhador enfrenta pressão inflacionária. O salário médio subiu de R$ 3.227 para R$ 3.477 no período, alta real de 7,7%. A massa total de salários chegou a R$ 351,2 bilhões no segundo trimestre de 2025.
O problema está na composição da inflação. Enquanto o índice geral bateu 5,13% nos últimos 12 meses, alimentos subiram 7,62% em 2024. A diferença é brutal para famílias de baixa renda, que gastam proporcionalmente mais com comida. O aumento salarial derrete rápido no supermercado.
Para micro e pequenas empresas que atendem esse público, a matemática é cruel: custo operacional sobe mais rápido que a capacidade de consumo dos clientes. O empreendedor periférico opera com margem apertada e sente primeiro o aperto do bolso do consumidor.
Desigualdade regional e racial permanece estrutural
O emprego melhorou em todo Brasil, mas a desigualdade continua gritante. Nordeste registrou 9,0% de desemprego em 2024, contra 4,2% no Sul. Pernambuco bateu 10,4%, enquanto Santa Catarina ficou em 2,2%. Diferença de 6,8 pontos percentuais entre regiões.
Mulheres enfrentam 8,7% de desemprego contra 5,7% dos homens. Diferença de 3 pontos que atinge milhões de mães chefes de família empreendendo por necessidade. Negros registram 8,4% de desemprego, brancos 5,6%. Raça e classe social seguem entrelaçadas no mercado de trabalho brasileiro.
Jovens de 18 a 24 anos sofrem 14,9% de desemprego, quase três vezes a média nacional. São justamente eles que mais tentam empreender por falta de alternativa.
Juros altos ameaçam ritmo de crescimento
Com Selic a 15%, o Banco Central está pisando no freio da economia para segurar inflação. Efeitos costumam demorar de 6 a 18 meses para aparecer no emprego. Economistas esperam 2025 e 2026 mais difíceis para criar vagas.
Para micro e pequenas empresas, juros altos significam crédito caro e clientes com menos poder de compra. O empreendedor periférico, que já opera com margem apertada e sem acesso a crédito subsidiado, sente primeiro o aperto monetário.
Investimentos do governo em infraestrutura podem segurar parte dos empregos na construção civil. Mas o setor de serviços, maior empregador das MPEs, depende de consumo aquecido. Com inflação de alimentos corroendo salários e juros estrangulando crédito, o cenário é desafiador.
O trabalhador brasileiro vive o melhor momento em 13 anos. Micro e pequenas empresas provaram capacidade de gerar emprego em escala. A periferia mostrou que empreende não por romantismo, mas por necessidade que virou oportunidade. O desafio é manter ganhos quando macroeconomia começar a apertar de verdade.