Zohran Mamdani e a economia da representatividade

O prefeito de Nova York está no meio dos pretos. E isso muda tudo.

Nova York acaba de eleger um novo prefeito: Zohran Mamdani, 34 anos, muçulmano, filho de imigrantes, socialista — e com os pés fincados nas ruas. Mas o que mais chamou minha atenção não foi o discurso. Foi o vídeo: o cara no meio dos pretos, dançando, sorrindo, ouvindo e cantando rap, como um deles.

Sem medo, sem disfarce, sem aquele jeito sem jeito de político no lugar errado.

Festa tem mais de economia do que muito fórum global. Porque quando um líder político entra na quebrada, se mistura de verdade, dança e se reconhece naquele povo, ele faz algo que o dinheiro sozinho nunca fez: devolve autoestima.

E autoestima é combustível da economia. Um povo que se sente visto começa a acreditar. Acredita, cria. Cria, produz. Produz, consome. Consome, movimenta. Movimenta, transforma.

Mamdani é um cara do povo, que sabe o que é morar longe, pegar transporte lotado, viver com medo de não pagar o aluguel. E agora ele está no comando da maior cidade do mundo. Isso é símbolo, é político, é econômico — e é libertador. Quando uma criança preta de Nova York vê o prefeito dela cantando rap com os dela, ela aprende uma nova lição:
“Eu também posso estar ali.” E isso vale pra qualquer menino ou menina da favela no Brasil. Porque o que Nova York faz hoje, o mundo inteiro observa amanhã. A gente costuma dizer que o racismo mata. E é verdade — mata sonho, mata emprego, mata esperança.

Mas o antirracismo também faz nascer. Nasce negócio, nasce cultura, nasce consumo, nasce economia.

Quando um gestor público — em Nova York, no Rio ou em São Paulo — entende que a favela, o gueto e o subúrbio são partes fundamentais da cidade, e não um problema a esconder, ele muda o jogo. Porque ali vivem trabalhadores, empreendedores, artistas, gestores. Ali estão os novos mercados, as novas ideias, os novos públicos. Ali nasce o futuro.

Hoje, em São Paulo, um deputado quer revogar o Dia da Favela, proposto por Miltinho Leite e Leci Brandão. Quer transformar tragédia em palco e associar a favela ao estigma. Como se a favela precisasse do Estado para homenagear sua própria gente — a força de trabalho, a honestidade e a luta diária dos seus moradores. Não se trata de enaltecer a existência das favelas, mas de reconhecer quem resiste e constrói o país delas.

O que Mamdani faz não é apenas política. É símbolo. É como se dissesse ao mundo: “Eu posso estar no comando e continuar sendo de vocês.”

E isso é gigante.

Porque quando o poder público desce do pedestal e sobe no palco do povo, o resultado é revolução. Não a de bandeira e grito, mas a revolução da convivência, da representatividade e da economia real. Mamdani é o retrato do que o mundo começa a entender: não existe futuro próspero sem a base. Se Nova York está pronta pra ter um prefeito que dança rap com o povo preto, então o planeta está começando a ouvir o que as favelas dizem há décadas: quem inclui, multiplica.

Rolar para cima